Entendemos que as questões apresentadas para a discussão sobre: UNIVERSIDADE E SOCIEDADE prendem-se, primordialmente, à história da universidade no mundo e no Brasil, sua criação, formação, evolução e em sua dependência e submissão, por exemplo, durante muito tempo, a universidade esteve totalmente acorrentada ao estado e à igreja que, por vezes, cercearam sua criação, seu desenvolvimento e seu aprimoramento, dificultando que vínculos entre sociedade e universidade fossem traçados.
Este engendramento de cunho político-social-religioso está ligado às questões do saber enquanto forma de poder, assim, diante do altar sagrado da universidade, tínhamos (ou temos?) as entidades e os segregadores que afastavam a sociedade das dependências do palco sacrrossanto, onde ficava enclausurada a chama da sabedoria, a qual somente alguns escolhidos [elite] tinham acesso.
Ao atribuir-se à escola, particularmente à universidade, o papel de fonte onde nascem soluções advindas de pesquisas, análises críticas e o papel de transmissora de conhecimentos e saberes, a universidade é tida como instituição fundamental para o desenvolvimento social e científico dos povos, pois o caráter desta instituição deverá ser sempre coletiva, social, pois uma das atribuições da escola, em qualquer nível é o de socializar e humanizar conhecimentos e relações.
Historicamente, ao pensarmos o período corresponde de 1920 a 1946, vamos rever o movimento artístico denominado Modernismo, passamos por dois períodos ditariais, recheados por uma guerra mundial. Num brevíssimo relato, vamos tentar situar a universidade neste período.
Nasce na Europa o movimento vanguardista que visava antecipar o futuro e pregava a liberdade, a ação e o antipassadismo cultural, movimento artístico denominado consagrado no Brasil pela semana de 1922. Lauro de Oliveira Lima, ao analisar palavras de Mc Luhan sobre educação, nos diz: "...à universidade caberá, provavelmente, o papel crítico criativo de projetar o futuro." Associamos a idéia futurista dos modernistas a um dos papéis da universidade: a idéia de também estar associada ao futuro, ao olhar voltado para frente. Desta forma, inaugura-se também um movimento que fomenta o desejo de emancipação e independência nas artes, e este desejo se estenderá pelas instituições culturais, com a idéia de que se devia vincular mais autonomia aos fazeres e saberes, populares e/ou acadêmicos.
Com o advento deste movimento, passa-se a observar que a separação entre a cultura popular e os ensinamentos acadêmicos, isto é, a separação: universidade - sociedade - povo não era boa para ninguém. Como mostra o texto estudado, o elitismo segregador, ainda mostrava resistência, mas já foi um bom começo.
Entre o riso e o choro, o Estado Novo incentivava o desenvolvimento cultural ao mesmo tempo que reprimia qualquer um que não rezasse por sua cartilha, tínhamos neste período uma intelectualidade dividida e reprimida. Na Era Vargas, a cumplicidade entre os intelectuais modernistas e o Estado Novo é um fato, pois inúmeros foram os intelectuais que contribuíram com seu trabalho para construir a imagem de Vargas e disseminar a ideologia do Estado Novo. Além de interesses particulares, ideologias e desejos, também, é possível explicar o engajamento dos intelectuais modernistas no projeto político do Estado novo pela coincidência de propostas no tocante à valorização do nacional e do regional, tanto por parte do ideário estado-novista quanto por parte da vanguarda modernista.
Nestes tempos, em que tudo parecia estar sendo atualizado, a universidade (como o todo social brasileiro) não podia "atualizar-se" integralmente pois vivia sob a tutela de um governo autoritarista. Assim, entre perdas e ganhos, a universidade continuou buscando aproximar- se da sociedade e do povo, tentando romper a rede de segregação, exclusão social, uma vez que em seu alicerce o traço -de - união entre a academia e a sociedade está, ideologicamente ( ou idealmente?), acimentado.
Chega-se a 1964. Cassadas as vozes, "caçados" os professores, intelectuais, ficamos sem palavras ou tínhamos apenas palavras contidas, a universidade agoniza em sua produção e inserção social. Mais uma vez, que não rezasse por determinada cartilha, era jogado às feras.
O tempo segue e a universidade vai tentando equilibrar-se, pois muitas são as funções sociais desta, uma das principais diz respeito à manutenção dos valores humanos, de servir como instrumento básico para o desenvolvimento social e como forma de o homem e a própria instituição projetarem-se, marcarem seu espaço, apoiando-se no seguinte tripé: cidadania - soberania e congraçamento.
Na sociedade moderna, a universidade é uma instituição indispensável à formação de um povo, portanto, muitos são os desafios a serem enfrentados por ela. Entre as experiências do passado e os desafios do presente, a universidade lança seu olhar para o futuro, para tal é necessário que esta se envolva em projetos sociais e que invista e fortaleça sua produção científica e tecnológica, pois só assim, enfrentando os desafios é que a universidade poderá refazer-se e perpetuar-se.
A Universidade precisa alargar fronteiras, necessita urgentemente inserir-se na sociedade e inserir- se no mundo, trocar idéias, enriquecer-se, precisa ver-se além no tempo e no espaço, ver o país e o mundo à frente, nas questões sociais. A universidade precisa "pensar global e agir local" e vice-versa, pois, a valorização das questões socio-político-educacionais permitirá ao país: progresso, desenvolvimento, unidade sócio - cultural e, só assim, conseguiremos manter vivos saberes, experiências, experimentos e a difusão da cultura.
A produção e socialização do conhecimento deve começar pela distribuição do saber, da difusão da cultura, da socialização dos saberes e das representações culturais, já que saber precisa ser espalhado e não "empalhado", é preciso libertar o saber da torre de marfim, senão todo o seu valor será/estará perdido.
Outro ponto importante para a produção de saberes e para sua socialização: é preciso que se respeite todas as forma de saberes, o que não pode é alijar-se o conhecimento empírico, paradigmático do conhecimento científico, pragmático, senão sociedade e universidade estarão sempre apartadas ao invés de estarem associadas.
No que se refere ao espaço de produção de conhecimento, a universidade deve ser livre e crítica, portanto cabe a ela ir à sociedade, romper barreiras; as armas ela tem ou pode conquistar: mão de obra muito bem qualificada, aparelhamento e força política. Talvez falte conscientização, desejo, motivação. E por que não acreditar na força da universidade?
Se a escola, (referimo-nos aqui, particularmente, à universidade) é o lugar onde as trocas devem acontecer no processo ensino- aprendizagem, assim sendo, há alguém que sabe e aprende e há outro que aprende e ensina. Na referência - Algumas Questões - existe uma pergunta sobre a s questões nebulosas que são impostas à universidade, destacamos o que consideramos o cerne da questão: "... não poderá se descartar de posições ideológicas...?" Poderemos responder à questão apresentada, por meio desta pergunta: : Mas, será que não pode ajustá-las, flexioná- las ou flexionar-se para atingir a meta de aproximar-se da sociedade?, lembremo-nos de que na universidade, existe alguém que sabe.
A mudança em relação à fragilidade dos cursos está ligada a mudanças de base, é preciso mudar o sistema educacional brasileiro, precisa-se entender a LDB e respeitá-la e lutar para modificar o que for necessário. A questão aqui é remexer toda a base, reconstruir, aproveitando o que tivermos de melhor, e temos o nosso melhor.
No quesito que trata de Outras questões, está, a nosso ver, o ponto mais complexo deste estudo, pois, se tantos ainda continuam segregados, se a sociedade [e mesmo alguns alunos] não sabem o que é uma universidade, como funciona, para que funciona, se os professores são, socialmente e economicamente segregados, como queremos alçar vôos?
Acreditamos que precisaríamos mudar politicamente e academicamente, pois a conciliação dos pontos destacados só acontecerá quando o mundo acadêmico lançar-se ao mundo, assim, a universidade no mundo atual há que fazer o seu "marketing "pessoal", precisa mostrar-se à sociedade, travar com ela diálogos, trocas.
A fim de quebrarmos o isolamento desta instituição social, precisamos destruir barreiras sócio-político-culturais, criar fendas no dique, para que a água escoe e se espalhe pela sociedade, espalhando conhecimentos, permitindo participações.
Para mudar a rota traçada por um nicho social e historicamente constituído [ e construído], é peciso descentralizar poderes e reformar saberes, para que se possa definir prioridades, tomar as rédeas da divulgação e distribuição do bem mais precioso de uma nação que o conhecimento, facilitador do progresso e permissor da harmonização. A universidade precisa "levar um empurrão" bem forte, para que possa não só fazer a história, mas ter papel preponderante em seu curso. Mais uma vez... a História.
|