A maior parte das criações humanas é obra não de gênios individuais, mas de grupos e de coletividades nos quais cooperam personalidades concretas e personalidades fantasiosas, motivadas por um líder carismático, por uma meta compartilhada. Hoje, mais do que nunca, todas as descobertas científicas e as obras-primas artísticas não decorrem do lampejo de gênio de um único autor, mas do aporte coletivo e tenaz de trabalhadores, troupes, teams, squadre, equipes.
No livro "Criatividade e Grupos Criativos", o sociólogo Domenico De Masi refaz o percurso da história da humanidade à luz da tensão febril que a impele, sem parar, a corrigir a natureza com a cultura: da roda aos óculos, do paraíso à Magna Carta, das cidades da Mesopotâmia à linha de montagem, das catedrais góticas ao Projeto Genoma, do cinema ao jazz.
Decorrem das progressivas aproximações coletivas, da experiência milenar de clãs e tribos, da imaginação de um povo, do espírito de uma época. Não são mais do que etapas de um processo sem pontos de partida nem pontos de chegada, em que forças contraditórias como linhas retas e linhas curvas, razão e intuição incessantemente se alternam e entrelaçam.
Talvez na sociedade pós-industrial esses dois opostos possam finalmente chegar a uma síntese feliz. Para isso, De Masi apela às neurociências, à psicanálise, à psicologia, à epistemologia e sobretudo à sociologia: compreendendo as dinâmicas secretas do processo criativo, quem sabe não se possa aumentá-lo e colocá-lo em sintonia com a eterna aspiração humana pela felicidade.
Segundo De Masi, "este livro representa a síntese de todas as idéias que elaborei no decurso da vida, a propósito da mutação social, do trabalho humano, da criatividade, da latinidade, do ócio criativo. O meu desejo é que ele sirva para tornar os leitores mais felizes, mais conscientes de que a vida merece ser vivida, liberada, valorizada; mais decididos a remover as barreiras à criatividade e em satisfazer as próprias necessidades de introspecção, amizade, amor, lazer, beleza e convivência".
Em "O Ócio Criativo", Domenico De Masi elabora não apenas os temas da sociedade pós-industrial, do tempo livre e da criatividade, como também as questões da globalização, do desenvolvimento sem emprego, da feminilização, do declínio das ideologias tradicionais e dos sujeitos sociais emergentes.
A conversa tem como pano de fundo uma profunda insatisfação com o modelo social elaborado pelo Ocidente, sobretudo pelos Estados Unidos, centrado na idolatria do trabalho, do mercado e da competitividade. A este é contraposto um novo modelo com as seguintes premissas:
- baseado na simultaneidade entre trabalho, estudo e lazer;
- centrado mais no crescente tempo livre do que no tempo decrescente dedicado ao trabalho;
- atento à distribuição equânime da riqueza, assim como à sua produção de forma eficiente;
- militante pela redistribuição do tempo, do trabalho, da riqueza, do saber e do poder;
- no qual os indivíduos e a sociedade são educados para privilegiar a satisfação de necessidades radicais, como a introspecção, o convívio, a amizade, o amor e as atividades lúdicas.
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