Querido filho, Estamos quase no "Dia das Mães", essa data tão comemorada e tão esperada por mães e filhos por toda parte. É uma movimentação frenética em busca do melhor presente, do melhor almoço, da maior surpresa... Pessoalmente, depois que você passou a fazer parte da minha vida, compreendi como essa data é irrelevante nas relações de mães e filhos, e como são mais importantes todos os "Dias de Mãe": os dias que vivemos, eu e você, juntos, você crescendo, eu tentando lhe dar aquela que acredito ser a lição mais importante de uma mãe ao seu filho: como se tornar e permanecer um ser humano. Nos últimos tempos e em especial nessas duas semanas de maio, é quase impossível não tomar conhecimento de tragédias, horrores e atrocidades impensáveis para um ser humano. E refletindo sobre esses acontecimentos, talvez seja necessário falar sobre o que é ser humano. O que nos separa das coisas inumanas. São algumas lições que eu aprendi com meus pais, com as pessoas e com a vida, e que eu tento lhe ensinar. E relembrar a você nesta carta. Use as palavras mágicas: bom dia, por favor, obrigado. Você ainda é pequeno, passaram-se uns poucos anos desde que aprendeu a usar a fala para comunicar-se comigo, com seu pai e com o mundo, mas mesmo antes de aprender a se expressar com as palavras, nós sempre lhe dissemos que algumas palavras são muito mais importantes do que outras: as palavras mágicas. Aquelas que promovem a grande mágica da convivência civilizada. E que nos tornam seres humanos. Em especial, filho, existe a expressão mágica com licença: ela surge da consciência de que alguém que não eu ou você está ocupando algum espaço pelo qual precisamos ou desejamos passar, e que devemos pedir a essa pessoa, com cortesia, que nos dê passagem. Porque dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar do espaço, nos ensina a Física, e sem a cortesia do com licença, esbarramos ou empurramos a pessoa de nosso caminho. E perdemos um pouco de nossa humanidade. Você é bem pequeno, mas também tento ensinar a você outra cortesia que aprendi: a de segurar a porta para as outras pessoas. Se você abriu a porta, olhe em volta, perceba a presença de outros seres viventes e segure a porta. E se outra pessoa abrir a porta antes de você e soltar, segure também para quem vem atrás. Passar e deixar a porta bater em outra pessoa é muito descortês. E deixar uma descortesia dessas acontecer sem tentar corrigir também é. E nos faz perder mais um pouco de nossa humanidade. E se por algum motivo você esquecer de todas as cortesias e palavras mágicas, existe uma expressão que é extremamente importante conhecer, porque esta conserta o que ficou quebrado: é o me desculpe. Mas o desculpe tem que vir acompanhado de uma verdadeira mudança interna, de uma real correção das ações erradas, porque senão o perigo é que seja "da boca para fora". E nada destrói tanto a nossa humanidade quanto as palavras que são só da boca para fora... Sei que você pode perguntar por que me preocupo com coisas aparentemente tão pequenas, como dizer bom dia, por favor, obrigada, com licença, me desculpe. Mas essas lições pequenas tornam-se grandes no trânsito, na praça, na escola, no supermercado, na multidão: o que nos torna seres humanos são ações que demonstram, a cada instante, que compreendemos os limites da convivência em grupo, que tornam possível viver em sociedade. Porque quando não agimos assim, o resultado é o caos e a violência, são os acontecimentos horríveis que temos presenciado. Temos cinco sentidos físicos, e devemos usá-los a cada instante para perceber o outro, o planeta, a existência. Porque quando não usamos dessa maneira, agindo com cortesia, respeitando os limites e o que é mais desejável e raro, com compaixão, abandonamos e esquecemos toda a humanidade que existe em nós. E sem humanidade, nos tornamos apenas um organismo vivo que apesar da ciência ter chamado de homo sapiens, o homem sábio, não passa de um ser vivente perigosíssimo, uma arma de destruição sem controle e sem botão ou fusível de desligar... Filho, vamos combinar o seguinte: o melhor presente que você pode me dar de Dias de Mãe, e não apenas do Dia das Mães, é aprender essa lição. Seja um ser humano. Sempre. |