Quando você começa a andar por um caminho desconhecido, só pode contar com uma coisa: saber onde quer chegar. De nada adianta contar com a sorte ou com suas habilidades se não tiver um objetivo.  

Há 20 anos atrás coloquei os pés num desses caminhos onde na beira da estrada uma placa dizia “Para onde o destino me leva eu não sei”, mas feliz e jovem segui adiante. Por ser jovem e inexperiente, esperava que ao longo da jornada não fossem haver problemas, e que de alguma maneira tudo seria sempre do mesmo jeito que sempre foi: simples e divertido. Ao longo dos anos caminhando, começam a surgir desvios, cruzamentos e placas de “Perigo Adiante”. Ignorei a sinalização em vários momentos, o que por vezes me fez escapar desses perigos, mas em outras me deixou totalmente à mercê da sorte.

Ter a companhia certa para caminhar faz parte do caminho. De vez em quando é preciso acelerar os passos, em outras é preciso andar mais devagar para que sua companhia continue ali do seu lado com o mesmo desejo de chegar a um lugar especial, juntos. 

A cada novo problema superado, uma perigosa sensação de sucesso me fazia relaxar e com o passar dos anos voltar a novamente cair nos mesmos problemas e perceber que peguei desvios que me fizeram andar em círculos. Em alguns momentos pude contar com os amigos enquanto seus caminhos seguiam paralelos ao meu, mas com o tempo esses caminhos deixaram de se cruzar e se tornaram apenas um distante rabisco no mapa.

Nessa jornada, várias foram as vezes que caminhei com os desconfortáveis sapatos de outras pessoas, a cada vez que fazia algo que profissionalmente não representava nada para mim. Quanto mais andei com os sapatos dos outros, mais meus pés ficaram inchados e machucados, a ponto não mais caberem nos meus próprios sapatos. Não guardo nenhuma boa recordação desses momentos, apenas me atrasaram no caminho.

Sua companhia de viagem presencia todos esses erros, que de tantos se tornam mais relevantes que os poucos acertos. Mesmo assim, decidimos que a jornada precisava de mais gente para estar completa. Nosso pequenino companheirinho, num primeiro momento, parece que irá nos atrasar totalmente, mas logo percebo que é graças a ele que talvez chegue onde quero.

Sento à beira da estrada, e paro para escrever essa carta e pregá-la numa árvore. Quem sabe alguém passa por aqui e irá lê-la. Talvez ajude a não cometer os erros que cometi. Parar também me ajuda a relembrar por onde passei, me acalmar e acreditar que ainda posso conseguir chegar onde quero.

Ainda me lembro de um trecho dessa canção:

“As the pain sweeps through
Makes no sense for you
Every thrill has gone
Wasn't too much fun at all
But I'll be there for you
As the world falls down”

Bowie, David - As the World Falls Down