Bon Vivant |
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Eu não dei à luz um material baby | |||
por Liza Meller em 26-09-2009 19:07 | |||
http://contido.com.br/?aid=178 | |||
Ou a difícil arte de ser uma mãe consciente na sociedade de consumo | |||
Faço parte da nova geração de mães do século XXI, que optaram por ter um filho depois dos 40 anos. Durante anos eu e meu marido pensamos, refletimos, planejamos como seriam nossos filhos (ainda falta o segundo, mas esse só depois que nosso primeiro completar 1 ano). Travamos verdadeiros debates filosóficos, sobre como nossos filhos não seriam penalizados com a transferência de nossos desejos ou frustrações (a vida deles só caberá a eles decidir), sobre como lhes daríamos estrutura para se tornarem pessoas completas e conscientes, sobre como um bebê é uma pessoa sob nossos cuidados, mas que um dia sairá de casa e por isso mesmo não deve se tornar a coisa mais importante de nossas vidas sob o risco de um dia essas vidas ficarem vazias de objetivos. Depois da chegada de nosso bebê, essas ideias ficaram ainda mais fortes. Só não contávamos com um fator de impacto fulminante: a família. Embora eu e meu marido sejamos pessoas totalmente contra o consumismo, a ponto de conscientemente cortarmos da lista do bebê qualquer item que seja remotamente supérfluo, ou de marca, ou fruto do marketing covarde que tenta capturar os futuros pais nesse momento emocionalmente tão suscetível, isso não é uma unanimidade em nossas famílias. Aliás, pode-se dizer que somos exceção em nossas famílias. Sendo assim, desde a notícia da gravidez tivemos que conviver com o estresse constante de recusar ofertas de presentes, de desviar de assuntos como "mas como vocês farão o quarto se não souberem o sexo do bebê?!", de tentar manter a delicadeza ao recusar a oferta de um chá de bebê e dizer "não, obrigado, preferimos fazer o enxoval nós mesmos". Mesmo assim, como evitar a perplexidade de um parente (já planejando altas compras) que não compreende quando dizemos que "se nosso bebê for menina, a princípio, Barbie não entra em nossa casa"? Como explicar a outro parente que preferimos que encha o nosso filho de amor em vez de enchê-lo de coisas? Como lidar com a frustração de outro parente que exclamou "mas vocês não deixam a gente dar nada de presente!" (Deixamos, mas temos uma regra: presente só nas datas festivas). Nosso bebê já tem sete meses e está prestes a engatinhar. Optamos pelo aleitamento materno exclusivo até os seis meses, nosso filho não está em creche e vê o pai e a mãe o dia inteiro, temos horários rígidos de acordar, de dormir, de sonecas e de alimentação pois vemos o quanto essa estrutura previsível é benéfica para o desenvolvimento de nosso filho, que é uma criança feliz, risonha e absolutamente não sente falta de nenhum dos presentes que nossa família ficou insistentemente tentando comprar. Não cedemos em nenhum momento, mas é necessária uma vigilância constante: vez por outra tentam nos impor seus pontos de vista novamente. É claro que entendemos que somos considerados "radicais" por nossos familiares, que não compreendem o motivo de rejeitarmos tão enfaticamente algo que eles consideram natural e parte da vida. Mas nós sabemos, por experiência própria, que os valores mais importantes e que trazem mais felicidade e plenitude não estão associados à aquisição de coisas. E que honestidade, empenho, saber compartilhar, ser compassivo, dar o melhor de si em tudo o que fizer, ser verdadeiro, íntegro, ético, enfim, valores de construção do ser, que não são comprados nem vendidos, não estão associados a nenhuma marca ou personagem infantil, são o maior tesouro que os pais podem dar a seus filhos. Nos sentimos meio peixe fora d'água em nossa família, mas isso não quer dizer que não existam pais que pensam exatamente como nós. Por isso temos a comunidade Criar filhos sem consumismo no Orkut. Se você tem alguma dúvida ou ansiedade como nós, venha conversar! Leia também a segunda parte deste artigo, Material baby II. |
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